Thursday, November 25, 2004

a sesta do piano descrente...

De dia banal não tinha nada mas facilmente se acomodou ao ritual de hábitos e vicios diários trazidos numa cadência que não controlava. Foi por isso que nesse dia decidiu fazer algo fora do comum. Dormiu uma sesta leviana e ao estranhar a energia que tinha acumulado, decidiu passear por aquela zona movimentada da cidade sem se preocupar com hábitos, sestas ou vicios.
Saiu, desceu, e espantado com o vigor da indiferença que se abatera nele, estranhou o passeio como se naquele dia tudo fosse diferente das vezes anteriores. A árvore estava mais colorida mais viva. o passeio parecia menos sujo. a indiferença dos outros, essa, permanecia teimosamente igual.
cruzou com tudo o que autrora se encontrava prostrado e que agora por algum motivo estava mais amortecido com um extravagante vigor juvenil, pueril mesmo.
Mas o que se passaria? tentava ele descobrir. Cruzou-se ligeiro naquela vitrine que sempre o mirava e nunca tinha denunciado que ilusão prometia.
O choque percorreu o seu ser. O reflexo devolvia uma imagem inaudita, distorcida disforme, inexplicável....tudo batia certo...mas faltava algo...o que seria?....
- As teclas pretas....é isso....onde estão as minhas teclas pretas?....
Nada o explicava. A existência tinha redundado num mistério nunca antes descrito. Como teria aquilo acontecido?
Num laivo descontido atravessou-se-lhe o pensamento...como pode haver explicação para o inexplicável...?....
-O que se passa comigo? estarei no mundo telúrico?...não, não é isso....e outra idéia ocorreu... será que as coisas sem nome existem?....
-Foi então que sentiu um amparo a confortar-lhe o dorso. Uma mão percorria as suas curvas como se de um amor transcendental tratasse. ouviu uma voz dizer....
-É um piano...... e pelos vistos incompleto....
Outra voz dizia. - Incompleto? defeituoso quer você dizer......
- Como se atreve...não possuí sentimentos?.....não vê que está em dificuldades? Ajuda é o que precisa...mas pelos vistos não da sua....
-Conhece-o?...
-Será que é necessário amar só o que conhecemos? Conhece você outro megafone de sentimentos tal como este?.....
-Não é para se ofender....disse nun tom desafiador...
-A ofensa nem reside bem no que disse, mas sim no que você pensa.....voltando então a atenção ao piano....sente-se bem? num tom muito mais sereno....
O piano estranhando a atenção de estranhos num dia tão peculiar como aquele afirmou gentilmente....
-Não sei devo-me ter sentido tonto. não consigo explicar...
-Nem precisa. Disse o homem de voz serena.
-Posso ajudar-lo? Para onde vai? Deseja falar com alguém?
-O piano habituado a ser tão expressivo não conseguia falar com os simpáticos estranhos que o interpelavam. Logo ele que era tão comunicativo...que pena pensava ele. Passei tanto tempo a quere falar com estranhos e dizer que os amo sem nunca o ter conseguido. Era uma pena.
-Algumas cordas foram cortadas, sente dores?
-Não respondeu de imediato o piano........
Agora a jornada começava a fazer sentido....a diferença era que não possuía todas as faculdades extraordinárias que faziam dele o ser esplendoroso que era.
- Através de mim, muitos sentimentos foram descritos mas nunca vi tamanha falta.
Sim, as teclas pretas do piano tinham desaparecido e com elas parte dos sentimentos que compunham a maravilhosa existência que ele explorava através dos seus acordes. Acordes esses que eram indutores dos sentimentos mais sublimes até às façanhas mais heróicas da humanidade....
Por vezes a perda de certos sentimentos acusam a chegada de outros.
Se hoje digo que estou feliz por morrer mais um pouco é por que isso me trouxe a felicidade que tu tentas ocultar desntro de ti.
No meu ensaio contigo, sinto que o céu nos une, mas na hora de tomar rumo o mapa que me deram foi o da rosa dos ventos. Não sei quanto a ti, mas o norte ninguém me tira....bom rumo...

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